Lindo jardim.

Sai fazendo limpeza no jardim. Queria enxergar além do mato, ver um plano, uma terra, sei lá, deixar de olhar para o arranha céu.

Quando percebi fui coberta pela vegetação, arrancava tudo com voracidade, fiquei machucada demais, mas consegui presenciar os resultados.

Achei coisas inesperadas como colheres e facas que as crianças usaram para cavar ali meses atrás; sementes que nunca desenvolveram; sacola plástica degradando o meio ambiente, ela debochou de mim porque sabe que seu tempo de vida é muitíssimo maior que o meu.

Dentro da lixeira, tudo aquilo riam e soltavam seus odores fétidos que há muito estavam enterrados ali, com aquele ar de “vocês humanos que permitem a poluição viver, estamos a crescer.”

Segui com o trabalho, o matagal estava quase todo derrubado no chão. Que alívio e cansaço! Cheguei perto do muro de divisa com os vizinhos, é muito baixo, estava com medo, de cobras entre as pedras, de gente nas janelas. Nada aconteceu, só encontrei joaninhas, formigas, minhocas, abelhas e lesmas.

Perto do muro tinham cacos de vidros quebrados. Pensei em deixar lá, vai que algum ladrão pula, certamente cortará os pés. Recuei, pode ser o pé de qualquer criança brincando. Senti vergonha desses pensamentos mesquinhos. Estou coberta de lama, estou.

Quando eu estava quase terminando o serviço, olhei para o alto por causa do forte zunido que ouvi.

Gigante e maciço era o pilar que caiu sobre mim. Até hoje não sei se morri.

Que lindo jardim!