Vida de pó.

Fui varrido para debaixo do tapete

A festa vai começar

Espio saltos finos

Escuto infindáveis fofocas

Vejo maridos olhando curvas alheias

Compadeço me com as crianças

Olhos  dilatados parecem que beberam

Mas não

Só  seguram um silenciador nas mãos

O jantar está servido conclama a varredoura dona da casa

Enfim, todos saem do lado do tapete

Estou com ânsia

E não é do cheiro de xixi de cachorro

Misturado com aromatizador

No centro da mesa

Candelabros, flores, frutas,

Queijos, taças e castanhas

As baixelas começam a chegar

As baixarias ainda não

Os convidados elogiam a serventia

Mal sabem dos bastidores

Para parecer tudo no lugar

Estou com medo aqui debaixo do tapete

Temo  que eles venham disputar o lugar

Saberão ser varridos?

Não é fácil a vida de pó

O menino sumiu

Fiquei sozinho

O pó no centro da sala

Constatando a decomposição de pós.

 

12 comentários

  1. Uma beleza de texto. Parabéns.

    olhos de coruja…
    vendo na escuridão…
    sombria sabedoria…

    olha e vê, não dá para esconder
    mas ainda por um tempo debaixo do tapete
    não mais debaixo dos escombros…
    bate nos ombros, tira o pó…
    o vivo é durante, antes e pós…

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