Questionando o valor do antidepressivo.

Sinto uma apatia gigante como se fosse eSpectadora e não co-autora da própria história. Lembrando que espectadora com “s” é alguém que assiste/presencia um espetáculo, e expectadora com “x” é alguém que anseia/espera algo.

Como vocês sabem, a morte nos tocou de perto nesses últimos dias em duas ocasiões. Com isso veio todas as tristezas e implicações que a mesma nos impõe. Houve houve choro, houve lamentações, só não houve minha presença ativa derramando angústias e neuras como era de se esperar.

Percebi que a apatia e a angústia têm diferentes jeitos de expressão com a depressão e com o antidepressivo.

Na depressão você é tomada pelos sentidos e sentimentos, você é a própria angústia e por isso se torna apática não querendo saber de nada e nem de ninguém, inclusive de você mesma.

Já na medicação (tratamento com antidepressivos) você tem consciência da angústia que lhe abatem, mas parece que nada é com você, você fica indiferente, você é a própria apatia… Estranho demais.

Se antes eu não chorava por causa de emoções repreendidas, hoje vejo meus sentimentos voando no ar e não consigo os tocar com profundidade. Por isso, questiono o valor do antidepressivo para uma vida saudável e intensa.

Comentei disso hoje com a psicóloga que me falou que é assim mesmo, é um efeito do antidepressivo, que tenho que ter paciência, que vai passar, que logo entrarei no desmame. E depois? E depois?

Lembrei de quando eu era criança e me machucava, sempre tinha alguém dizendo: quando você casar isso sara. Pois é, eu já casei, aquela dor já passou, tenho novas outras que não sei se ponho curativo, ou se fico esperando o tempo tratar.

Hoje a única certeza que tenho é que se é ruim com o antidepressivo é pior sem ele. É difícil ver um pedaço da sua personalidade perdido, mas para mim, é mais difícil ainda não ter prazer em viver.

Ainda não acho que esse sentimento mudou em mim. Só acho que lidar com a depressão tem me feito descobrir muitas coisas, inclusive de que por enquanto não posso ficar sem uma química no corpo. Antes a química dos antidepressivos, a terapia e os exercícios físicos do que o isolamento, o álcool e a aspereza.

Isso não significa um conformismo, meu espírito é inquieto e gosto de liberdade, gosto de pensar.

Um dos motivos deu abandonar a religião foi por me sentir uma marionete: sem desejos, sem querer, sem opinião, sem vida própria.

Se foi assim lá imaginem aqui… Vamos ver quanto tempo vai durar essa minha relação de amor e ódio com os antidepressivos.

Mas já vou avisando, não pretendo casar outra vez. Como diz a lenda, até que a morte nos separe.

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32 comentários

  1. Você não pode é parar de escrever🌻Relatar com clareza, fluidez e sensibilidade as próprias dores e angústias é muito bonito e generoso. Convivo com pessoas que tomam remédio e sentem amor, ódio e conforto com eles. Seja para diabetes, bipolaridade, depressão… é o que existe hoje. O seu blog e o da Bia sobre bipolaridade são fundamentais🌻Obrigada😘

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  2. Tudo ficará bem! Você tem senso de humor, isso é importante. No grupo de solidariedade que participo, tem gente com tudo qto é tipo de problemas: câncer, depressão, exclusão social… ajudar os outros deve ajudar! Pense nisso! ❤️🙏

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  3. Eu senti o mesmo, Cris, quando tomei um medicamento específico (até relatei isso no meu livro pq foi muito intenso, ou melhor, muito apático). Tanto que deixei de tomá-lo. Com o novo remédio tudo foi melhor, sem essa sensação de não pertencer mais a mim mesma. E, depois, quando deixei a medicação de vez, essa falta de sentimentos sumiu por completo. E agora você está em outra fase – se aproximando do desmame. E se os profissionais que a acompanham acreditam que pode ficar sem o remédio é porque possuem motivos para acreditar nisso (até pq a maioria dos médicos segue o caminho oposto: medicam cada vez mais). Sem o remédio você passará por um período de adaptação (que pode ser ou não difícil), precisará estar sempre atenta aos sintomas, mas essa apatia vai desaparecer. Muitas pessoas precisam do medicamento por longos períodos e não conseguem ficar sem. A maioria, mesmo tomando, sente os sofrimentos da doença. São poucas as que conseguem trilhar o caminho de viver bem sem a medicação. Fique feliz por isso. ❤

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  4. Engraçado, eu não sinto isso tomando antidepressivo.
    Mas como disse a Bia, se os profissionais que te acompanham dizem que você poderá ficar sem o remédio, é porque eles tem motivo para acreditar nisso.
    Bjos Cris :*

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    1. Essa é uma nova e incomodante situação jamais experimentada na qual terei que aprender a lidar. Até já descobri o nome técnico para ela, mas é assunto de um outros post. Que bom que você não passa por essa estranheza. Bjao😘

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          1. Faz sentido. Sono é uma coisa que mexe muito com o nosso humor, ainda mais quem tem algum transtorno do humor.

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        1. Boa noite linda verdade meu sintomas eram terríveis era muito sono engordei muito tomava bastante remédio, hoje tomo mas pouco mas já tentei para por conta própria , isso so mi causou mas dor fiquei passando mal, mas hoje vejo que a unica forma e enfrenta wwwgrandehistoriademanuela123 entra la saber srr

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  5. Olá, Cristileine. ☺
    Há 6 anos fui diagnosticada como depressiva (antes de o diagnóstico ser corrigido para bipolar). Eu tinha 16 anos, e buscava desesperadamente a minha própria identidade. Quando comecei a tomar os antidepressivos que me foram receitados, me apavorei com a sensação de estar justamente perdendo a minha identidade. As sensações, as emoções, os sentimentos, antes tão intensos e arrebatadores, eram então débeis, como se eu estivesse amortecida ou dormente, nesse sentido. Eu não conseguia decidir entre a dor e o nada. Por algum tempo tomei os medicamentos a muito contragosto, mas por fim me convenci de que eles não me afastariam da minha identidade, e sim permitiriam que eu fosse eu mesma. Aquela dor toda não era minha, e quando ela passasse, eu voltaria a sentir plenamente, mas só sentindo o que realmente era meu.
    Quando eu finalmente cheguei a essa conclusão, fui diagnosticada como bipolar (a ironia não deixa de ser engraçada), e lá se foram os tais antidepressivos. Hoje eu tomo só estabilizadores, e estou ótima, mesmo sabendo que provavelmente terei que tomar os comprimidos pro resto da vida. Eles permitem que eu seja quem eu sou.
    Adoro seu blog!
    beijos

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    1. Oi moça do chapéu, quanta honra😀 como diz minha terapeuta: é sua versão aprimorada. Eu desconfio, é estranho, mas é melhor. No fundo, no fundo, nossas certezas são todas questionáveis. Gosto de ouvir outras opiniões, obrigada. Esse negócio de diagnóstico errado também é muito pano para a manga, se é que me entende. Temos que abraçar e seguir uma linha de tratamento que condiz com nossas necessidades e vontades. E assim vamos. Abraços 🙋🏽‍♀️

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