A reforma.

Pintaram o teto mofado, as marcas não negam, o bolor já havia tomado forma e volume. Até mesmo as estruturas duras e porosas, adquirem mofo quando estão em lugares úmidos e escuros. Sol e ar são fundamentais.

A cor brilhante do teto disfarçava, mas não escondia as deformações. Qualquer observador atento poderia verificar isso.

Pensei vou procurar um especialista em amaciamento de superfícies. Certamente esse teto precisa ser lixado e amaciado. Mas o que farei com a alergia ao pó?

Me disseram para eu ficar distante, alugar um quarto num hotel e relaxar. Será?

Sei que as vias respiratórias me agradecerão eternamente. Todavia, tudo o que tenho está dentro dessa casa. Mesmo encontrando profissionais de confiança, nenhum travesseiro terá o cheiro do meu. Certas coisas estão impregnadas em nós mais do que sabemos.

Aliás, meu travesseiro já se acostumou com o peso da minha cabeça, como nuvens, ele tem o poder de secar lágrimas e me levar para o mundo dos sonhos. Por isso suportei tanto esse teto mofado.

Contudo, quando parei de dormir aquele sonhado sono reparador, nem abraçando o travesseiro pude me livrar daquela visão. Era às três da manhã o encontro dos olhos aberto e do teto mofado.

Decidi, chamei o pedreiro, o encanador e o pintor.

“Dona Cris, sua casa vai ficar uma maravilha, vamos fazer nosso melhor, até colocar aquele impermeabilizante de última linha. E a senhora vai poder escolher novas cores, agora já existem tintas antimofo. E também colocaremos alguns tijolos de vidro nesse canto aqui da parede para aumentar a incidência de sol. O que senhora acha de colocarmos ar quente e frio? Aí vai poder controlar a temperatura ambiente. E…”

Quando fui correndo contar as novidades para meu pai, afinal ele teve uma boa bagagem como servente de pedreiro, escutei:

“Filha é sempre bom renovar, transformar o ambiente mexe com a gente. Vai lá. Não desanime, mas lembre-se mofo sempre volta.”

Hoje aquela casa está alugada e eu repouso em qualquer canteiro.

A vida é o que acontece entre um cuidado e outro do bater de asas.

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4 comentários

  1. Ah, minha amiga
    Dona Maria José não é deste mundo. Um beijo e um abraço para “as garotas” que fizeram os panos de prato que logo chegarão à sua casa.

    Grato pela visita.
    DARLAN

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