Paraquedas

“Querida Cris, um paraquedas para os dias mais amenos”, essa foi a dedicatória.

Nem tudo cai como um paraquedas e nem todo paraquedas cai bem, mas, esse caiu.

Fim da comilança natalina, dia de virose, daquelas que passam de parente à parente; a cama da minha mãe ficou banhada de vômitos, aquela correria, aquele odor, limpeza, remédios, banhos e a pergunta no ar: 

O que está acontecendo?

Foi o suco de laranja. Não foi a manga. Eu acho que foi insolação. Será que não é Corona?

Nossa filha como você está amarela.

Desculpa mãe não deu para segurar. 

Cris, Cris, me ajuda aqui a virar o colchão. 

Já vai mãe, não pega esse peso sozinha. 

Segura essa ponta aqui que eu seguro ali

Tá bom… 

ACHEI, ACHEI, eu não acredito, eu ACHEI!

O que foi mãe?

Olha aqui, eu achei o livro que te mandaram, eu já nem sabia mais o que te falar, risos e suspiro de alívio.

Quando abri era o “Paraquedas – um ensaio filosofico”, de P. R. Cunha. Esse livro pousou no interior de SP em julho de 2019, e posou dois anos debaixo do colchão, consegui resgatá-lo e agora vive na Alemanha comigo. Apareceu em boa hora nas minhas férias de final de ano, o li lá mesmo em Taiúva, SP, Brasil, com tempo de sobra para “ficar dentro de casa”. Em tempos pandêmicos cada instante com as pessoas que a gente ama é salutar. Foram dias de muita bagunça, nos dois sentidos, dias de chuvas, dias de quedas que pararam num cantinho de acolhimento. A leitura me instigou à ficar no sofá, escutando o barulho das goteiras e pensando nos pingos dos is, nas entrelinhas, na promiscuidade e vontade genuína de cada ser humano de que cada voo dê certo… Ler é viajar, nem todas as viagens se completam, isso não significa que o destino perdeu seus encantos.

Paraquedas” transcreve as perdas e ganhos das relações, a solidão e o ostracismo de um escritor e seus questionamentos sobre a sorte a morte.  É um relato de um jovem de classe média alta, com vasta bagagem cultural, que tem lá seus desafios familiares como todos nós, ama xadrez e literatura e está sempre em viagens (literais e literárias). Nesse ensaio somos conduzidos como uma peça que faltava, explico melhor, num canto ou outro do tabuleiro desse livro você vai encontrar identificação porque traduz o âmago humano e suas vicissitudes. 

Faz tempo que não troco mensagens com o escritor P. R. Cunha, ainda assim, gostaria de deixar meu agradecimento por receber esse exemplar que participou da minha “eternidade passageira”. Gostaria que soubesse que tive “sorte”, não peguei o livro em uma “prateleira empoeirada”, mas do estrado da cama, e ele estava inteiro. Forte abraço desta “neutriniana” aqui, lembrando que paraquedas dormem mas não morrem. 🙋🏽‍♀️

“Criamos os nossos próprios mitos e depois nos desdobramos para torná-los  compreensíveis a um outro… em suma maquiamos a realidade a nosso bel-prazer”

P.R. Cunha

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