
Sou daquelas que logo que vê um pé de arruma corre para pegar um galhinho e coloco atrás da orelha. Supertição? Não, simplismente gosto do cheiro, apesar de ser forte e enjoativo.
Minha avó paterna era benzedeira, logo no fundo do quintal dela sempre habia ervas aromáticas, flores e especiarias.
Mas, dessa vez, fui surpreendida!
Com uma arruda entre os cabelos e a orelha, outra dentro do sutiã e uma muda plantada pronta para a viagem, o meu irmão me perguntou:
– Você lembra da vozinha?
– Claro que lembro, como não?
– O que ela sempre carregava no corpo?
– Oras um palheiro como você.
– E o que mais?
– Vixe, daí não lembro mais.
– Arruda, arruda como você.
Eu fiquei um tanto quanto pensativa, de fato não lembrei que ela levava arruda consigo. Aquilo mexeu comigo.
A vozinha não era a minha avó paterna, mas sim a minha bisavô materna, tive o privilégio de conviver com a vozinha alguns anos na infância. A surpresa veio por conta de como repetimos padrões ainda que inconscientemente.
Poderia até fazer uma descrição da influência da constelação familiar aqui nesse texto, ou mesmo, falar do poder energético da arruda. Mas, o que quero mesmo é ressaltar o tanto quanto as memórias afetivas nos mantém vivos naquele campo sutil, fundamental e ancestral que só alma do mundo pode alcançar.
Nesse lugar forte formado de coletivos e coletivos e coletivos, encontramos nossa individualidade. Nesse mundo que às vezes é enjoativo, mas que carrega em si a oportunidade de sermos melhores mudas.

