
Pesquei! Foi o que ela gritou depois de ter seus óculos perdidos por dois dias na água turva da piscina.
Note bem que foi pesquei, e não achei.
O danado suportou a super cloração, o algicida e o clarificante e está em perfeito estado.
Quando tudo aconteceu, ela não sabia se pulava naquela água sem vida e desregulada pelo tempo e falta de cuidados, ou, se deixava quieto para recuperá-lo num momento de visão.
Escolheu a segunda opção, levando em consideração sua saúde e repulsa pelo limo.
Uma escolha que lhe causou dor, afinal eram seus óculos prediletos, um presente que se deu por força do mérito num momento de reconciliação consigo mesma.
Decisão feita, vieram as questões: Por que? Por que? Por que? Passado a birra, chegou a resposta: a vida é feita de desapegos.
Sua alma foi se acalmando aos poucos, mesmo assim, de vez enquanto ela ia lá espiar se a água dava sinais de recuperação e passava a peneira para ver se achava.
Como tudo tem seu tempo, relaxou, pescaria é paciência.
Lembrou da procedência dos óculos, dos motivos que lhes escolheras e rezou para a santa dos óculos perdidos.
Hoje à tarde ela obteve resposta e soube que aquilo ali não era um achado, pois, tudo e todos na vida têm suas razões de ser e estar aqui nesse marzão da Terra.
Aquilo ali era uma pescaria e quem foi fisgada pela lição cotidiana foi ela mesma. Até agora está sem entender se quem gritou pesquei foi ela ou os óculos.
