
Hoje, meu cachorro roeu o osso com tanta voracidade que fiquei me perguntando: o que deu nele?
Quando chegou aqui em casa, mal sabia o que era um osso. Não entendia os brinquedos, nem parecia conhecer o próprio direito de brincar. Vai saber qual foi a história dele mundo afora, os caminhos, os abandonos, os silêncios que o trouxeram até aqui.
E então me peguei pensando: qual seria o meu osso? Aquele que eu devoraria com tanta determinação? Juro que não vou dar nomes (risos). Até porque há ossos duros de roer, há os indigestos, os falsificados e aqueles que roem a carne e deixam o osso para trás. Basta ligar a televisão ou olhar ao redor, eles estão por toda parte: nos noticiários, nas redes sociais e bem debaixo do nosso nariz.
O osso é a última substância corpórea a se dissolver no universo. Talvez por isso fascine uns e assuste outros.
Eu, ao contrário do Bob, não preciso treinar os dentes, nem para aliviar tensões, nem para buscar certezas em algo ou alguém concreto. O que venho fazendo é alimentar o tutano da alma. “Livrai-nos de todo mal, amém.” Para que os dias de cão sejam mais leves e para que os dias de glória não me mastiguem com ilusões.
Qual é o osso, ou melhor, a última substância do seu ser, que gostaria de deixar para roerem?
Eu já escolhi a minha: meus textos.
Agora não há pretexto. É a sua vez de dizer.

Por isso, sempre dizem: “tá osso”!
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Sim!
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