Era franzino aquele menino
Recebia só olhar de superioridade
Não só por sua pouca estatura
mais por sua caixa de engraxate.
Em vez de se sujar com graxa
Ele queria fazer graça
Foi mal compreendido
Logo no lugar do sorriso
Fez se uma alma em gemido.
Não sabia se era melhor sua caixa
Ou voltar lá para o corte de cana
A única coisa que sabia
Muito suor dá pouca grana.
Fazia dívida nos bares
Adorava salsicha empanada
Mas quando chegava em casa
A cinta o comia e a palmada.
Arroz com ovo era sua sina
Se divertia vendo o movimento
Todo dia prostado ali na esquina
Soltava os pensamentos ao vento.
Sapatos para ele era status
Que seus pés não conheciam
Ganhava chinelo ou conga
Trazidos por sua tia da enfermeraria
Melhor nem pensar a quem pertencia.
Tentava não estar só por debaixo das solas
Usava a caixa de bateria
Já foi logo percebendo
Que seu som ninguém ouvia.
Ainda assim se sentia importante
porque mesmo em desalento era forte
para carregar a vida nas costas
Em forma daquela caixa de engraxate.
De tudo o que mais gostava
Era das cores nas latinhas
Mesmo que só preto ou marrom
O importante era o lustre que reluzia.
O brilho refletia ao olho
Enchendo esperança
Não pelas moedas jogadas no colo
Mas para não ver mais nenhuma criança
Com a caixa de engraxate
Pedindo beira na estrada da oportunidade.
Essa história se repete trocando as caixas e os engraxates. Árduo conseguir espaço ao sol nesse mundo capital.
Gostei, principalmente da reflexão “muito suor dá pouca grana” e a comicidade trágica por trás dos chinelos da tia.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Rsss obrigada Tiel.
CurtirCurtir