foi uma mulher negra
dentro do seu útero eu acompanhava
a raça dela na roça para me criar
acompanhava a raça do corpo dela
para me formar.
Nasci corri para os seus mamilos
e ela para as minhas negras pupilas entreabertas.
Com aquele leite branco e quente
jorrando vida em minha boca
fechei os olhos e tudo ficou lindo céu estrelado.
Tudo ficou igual na casa do útero
estávamos ligadas de novo
como antes do corte do cordão umbilical.
Tudo igual ao que eu via dentro do útero:
calor, afeto, proteção
medo, desejos, escuridão.
Dias após fui registrada
na certidão de nascimento
escrito em raça cor branca…
Nos cortaram de novo
poderiam ter colocado
Raça = humana
se bem que mais combinaria
Raça = animal, bípede, mamífero da ordem dos primatas.
Cresci me chamam de jambo
preferiria ser chamada de gente.
Cresci e vejo como pessoas se tratam diferentes.
A pele virou identidade
marcada por toda a vida
com cicatrizes do “ismo”.
Quando eu olho para a minha mãe
vejo muito mais que útero e pele
vejo uma pessoa que lutou e luta
para me manter em pé.
Vejo uma mulher que tem raça
de se manter em pé
há muitas Maria Lúcia por aí.
Desejo que essas Marias
com seus úteros sangrentos
dê luz para esse mundo tão violento.
Mãe sou papel e você é lápis
nesse útero de história sem fim
que poderia ter traços
mais suaves de dignidade.
Continuaremos escrevendo.
Lindo texto é bela reflexão! Parabéns!
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Francamente, muito obrigada por esse sorriso por aqui biancamenti.
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Porque raça mesmo é a garra, não um gênero…
Parabéns pela visão aberta!
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Que coisa mais deliciosa de se ler. Um excelente poema reflexivo sobre as questões que abrangem o racismo. Uma linda homenagem a uma mulher tão guerreira e especial.
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Maria Vitoria, fico feliz com seus comentários, valeu. Quanto ao poema duro ter que falar em cor de pele em pleno século de automatização. Tanta evolução por um lado e indiferença do outro. Segue a luta.
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