Negra, branca, jambo, gente

Quem me deu a luz

foi uma mulher negra

dentro do seu útero eu acompanhava

a raça dela na roça para me criar

acompanhava a raça do corpo dela

para me formar.

Nasci corri para os seus mamilos

e ela para as minhas negras pupilas entreabertas.

Com aquele leite branco e quente

jorrando vida em minha boca

fechei os olhos e tudo ficou lindo céu estrelado.

Tudo ficou igual na casa do útero

estávamos ligadas de novo

como antes do corte do cordão umbilical.

Tudo igual ao que eu via dentro do útero:

calor, afeto, proteção

medo, desejos, escuridão.

Dias após fui registrada

na certidão de nascimento

escrito em raça cor branca…

Nos cortaram de novo

poderiam ter colocado

Raça = humana

se bem que mais combinaria

Raça = animal, bípede, mamífero da ordem dos primatas.

Cresci me chamam de jambo

preferiria ser chamada de gente.

Cresci e vejo como pessoas se tratam diferentes.

A pele virou identidade

marcada por toda a vida

com cicatrizes do “ismo”.

Quando eu olho para a minha mãe

vejo muito mais que útero e pele

vejo uma pessoa que lutou e luta

para me manter em pé.

Vejo uma mulher que tem raça

de se manter em pé

há muitas Maria Lúcia por aí.

Desejo que essas Marias

com seus úteros sangrentos

dê luz para esse mundo tão violento.

Mãe sou papel e você é lápis

nesse útero de história sem fim

que poderia ter traços

mais suaves de dignidade.

Continuaremos escrevendo.

 

8 comentários

    1. Maria Vitoria, fico feliz com seus comentários, valeu. Quanto ao poema duro ter que falar em cor de pele em pleno século de automatização. Tanta evolução por um lado e indiferença do outro. Segue a luta.

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