
Novamente estava na casa sem alicerce
O chão flutuava
Pedia e perdia equilíbrio
As escadas não tinham fim
Cada porta um beco sem saída
Cada janela um pular, ou, morrer
Morrer de solidão nessa casa gelada
Pular nesse oceano desconhecido
O que adianta esse lindo lustre de cristal?
Se ventar seus estilhaços vão ao chão
Ainda assim, serão menos cortantes
que meus pensamentos
Vou dançar sobre eles
Se o balançar me permitir
Vou dançar
Ou se não
Vou me segurar no beiral da janela
Sempre estou a beira
A beira de explodir
A beira de sorrir
Mas não pulo
Ah não pulo
As baleias assassinas que vivem
Por baixo dessa casa
Não verão meu sangue
Só a cortina do meu corpo
Dançando pendurado nessa janela
Se segurando para não pular
Quando essa ventania passar
Vou fincar meus pés no chão
No canto dos passarinhos
Vou fazer ninho
De lá ninguém vai me tirar.