Relações derramadas.

Queria ter a audácia de levantar as mãos e afagar seu rosto. Mas as mágoas nos separaram com esse muro invisível do orgulho. 

Você me deixou num vestido branco. O buquê muchou, o cetim amarelou, a coroa de rosas com brilhantes virou só espinhos e enferrujou. 

Nesse amor platônico, nem a química nos uniu. Foram tantas distância e ais em nosso meio, que você fugiu. Fraco, morimbundo. Deixou o leite derramar.

E quando te vejo passar no carro com os vidros fechados, ainda percebo a espreita do seu olhar. Queria sentir raiva, luto, ou até te derramar no esquecimento. 

Só que meu ventre continuava a te chamar. Na rua eu usava toda a indiferença que aprendi a cultivar. A diferença, é que quando estava no meu quarto nua, era sempre um tal de esperar. 

Pedi para a estrela cadente para ficar eternamente com você. A resposta veio com o tempo… só com a passagem do tempo.

Descobri o universo em te perder. 

Dura é a finitude, mas a liberdade ah essa sim é eterna. Nos conduz a amplitude em corpo, alma e relação. 

Hoje sou acariciada pelo dom da relevação: relevo os desencontros, a apatia, a nata espirrada.

Meus cabelos cresceram, já não aparece mais a cicatriz, estou coroa. 

Estava sentada naquela cadeira de balanço, balançando o passado, que ainda bem…passou.

Levantei de lá, sai da cozinha, meu quintal é o vasto mundo.

Acreditem, a vida borbulha após as relações derramadas, espere esfriar para tomar do seu líquido precioso, aprecie o alimento que ela sempre lhe dá. 

Bom apetite.

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