Solidão e seus atributos III

Vou contar o que já vi e ouvi sobre o Natal começando de trás para frente. 
Na Alemanha o Natal é esplendoroso com todas as suas tradições dos Mercados de Natal, luzes, músicas, clima com neve, convite à ficar dentro de casa. No entanto, minha professora de alemão me contou que é a data que há mais suicídio, principalmente pessoas se jogando na linha do trem, é a solidão de Natal. 

No Brasil, é uma época muito quente, com a chegada do verão, as famílias se reúnem, há muito comes e bebes, piscina/banho de mangueira àqueles que moram longe do mar/das cachoeiras. 

Nessa época encontro minha mãe chorosa ou pensativa pelos cantos. Certa vez perguntei o motivo. A resposta foi a dor pelos que partiram (o luto). Calei, certas coisas só se resolvem com o silêncio e com o tempo. É a solidão de Natal. 

Nesse ano, ela me contou da euforia da minha pequena sobrinha ao ver as bolas de Natal, foi uma descrição tão singela que perdi boas horas do meu sono imaginando aquela cena das duas montando a árvore. Fiquei lá na cama contemplando a minha solidão de Natal. 

Isso me remeteu à infância, com as cartinhas que eu escrevia para papai Noel, caprichava, desenhava corações e flores, contava da nossa limitação e dificuldade para comprar brinquedos. Colhia mato para as renas no terreno baldio do vizinho, colocava ao lado das botas com a carta dentro. Era tanta esperança e preparação. A mesma que eu via meus pais falando do menino Jesus, dos Reis Magos, arrumando as recepções de fim de ano. 

Um dia achei partes da minha cartinha rasgada e jogada naquele mesmo terreno baldio. Acho que já contei esse episódio para vocês aqui né. Foi a primeira vez que entendi sobre a solidão de Natal. 

Hoje tenho filhos, procuro nutri-los de esperança e ensinar que a solidão pode ser boa, criativa, artística. Mas, que se a solidão beirar o isolamento*, levará a dor, a depressão, a morte. 

Antes desse ponto, temos que nos manifestar, falar, agir, dar cor as nossas árvores da vida, tal como as coloridas bolas de Natal. 

  • Atenção a solidão pode ser muito mais do que o isolamento. 

4 comentários

  1. Conversando com o meu pai, ele me disse que não gosta mais do Natal, eu questionei o motivo e este me disse que Natal era uma época na qual a família ficava reunida, ceiavam (mesmo tendo pouco o que comer por a família ser extramente pobre), no entanto, agora não tem mais o pai e a mãe. então para ele é uma época muito triste. Agora ele não suporta mais Dezembro, porém diz que fica feliz de ter os filhos por perto. É a solidão do Natal…

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  2. Olha é uma descrição que cai como luva acredito que para muitos ou quem sabe para todos, apenas diferenciando os que se percebem e os que não conseguem se perceber. Não vou afirmar que sou puro sorriso em épocas natalinas, sempre me coloquei como, não posso, não devo e sempre tive argumentação para tal. Já passado por meu pai que descrevia sua vida dura de luta que a minha nem chega perto, mesmo nos momentos de aperto. Imagine então o que dizer dos desabrigados, dos que tem fome, que já comentei aqui no blog meu, o refrão que não cala, “Quem tem fome, tem pressa”.
    Enfim, apesar de ser uma data onde o espírito e por que não a imaginação nos remete a tanto sobre a cultura religiosa de diversos povos sendo a cristã a mais celebrada atualmente nos deixa esse apego de compaixão, de balanço sobre o que fazemos, dos perdões que nos esquecemos.
    Sim, há tristeza nessa grande celebração, mas há também alegria e cabe-nos dentro desse equilíbrio de cordas manter-se apto a atravessar. =)

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