Conta outra.

Imagem Pixabay.

Lobo mau, bicho papão, mula sem cabeça, lobisomem, curupira… quantas estórias são nos contadas na infância para nos preparar para o mundo real. Elas chegam antes da matemática, das ciências e da gramática. Isso já deve ser a uma grande sabedoria oculta nos preparando para sermos fortes, para aprendermos a nos proteger. 

Desde que comecei a lidar com esses personagens face a face, fui perdendo a capacidade de imaginar. De fato, eles são muito mais ferozes do que nos é pintado nas estórias, lá são palavras e ilustrações, no dia a dia lidamos com estupidez, crueldade, selvageria e bestialidade. 

Okay, okay, tudo para ficarmos mais resistentes e quem sabe até passar no vestibular, entrar no mercado se trabalho; comprar um pedaço de terra, montar uma casa; comprar um pedaço de lata potente com o designer bem bonito para nos transportar. Nem sempre nessa ordem, esse foi só um exemplo dos graus de interesses humano. 

Seguimos mais um capítulo, de página em página vamos aprendendo. Uns a serem príncipes e princesas dos mais variados gostos, outros a serem Sansão e Dalila, o Patinho Feio, o Corcunda de Notredame. Por aí vai.

O contratempo é quando você acorda um dia todo arranhado e percebe que se transformou no vale, por onde até os lobos temem passar. Um vale onde os uivos são cantos de festa, e o rosnar de dentes cantigas para dormir. O seu próprio susto, choque e fúria são imensos, mas simplesmente não há forças para levantar e reagir. Não tem para onde fugir. Nem a boa vontade, a multidão de palavras e as atitudes mais belas de força e de fé (sua e dos outros) são capazes de dizer “hei isso são só estorinhas, só existem nos livros, levante”.

Quando percebi que estava me transformando em lenda viva, procurei o médico um psquiatra, neurologista e psicólogo, três em um. Mais uma válvula de escape como outras qualquer que eu já havia provado, como igreja, álcool, socialização, etc. Ele me disse que esse vale tem nome: depressão. Me receitou antidepressivos que prometem mudar minha química cerebral. Já os gurus dizem que tudo é física… 

Evidente que melhorei na matéria, mas isso não quer dizer que deixei de almejar o fim dessa história, e realmente espero que não venham com mais um “conta outra vez”.


Olhe só que foto mais sugestiva: no livro de um lado o cachorro preto, do outro a menina no seu caminho seguindo o balão. Pura poesia essa imagem!


 

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11 comentários

  1. “Evidente que melhorei na matéria, mas isso não quer dizer que deixei de almejar o fim dessa história” sem palavras, exatamente isso! triste porém não deixa de ser poético e bonito…

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  2. Mesmo escrevendo em prosa, você transborda poesia! Além do mais, achei esse texto-poesia extremamente profundo e belo, incitou-me diversas reflexões.

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