Por segundos fomos uma.

Cabelos brancos encaracolados na altura do ombro; pele pálida, fina e enrugada do tempo; olhar longínquo e cansado de quem já viu muitas estações.

Assim desenhei na mente, aquela senhora que vi na janela do terceiro andar enquanto eu passava de ônibus.

Era muito cedo, o frio estava intenso e lá estava ela, na janela arrumada de flores e velas.

Pensei na sua solidão, que podia estar descansando numa hora daquelas. Mas já estava ali toda arrumada e aprumada para ver o dia começar, com seus transeuntes pra lá e pra cá, sacos de pão, cachorros tremendo, mochilas escolares, gorros, muitos gorros, cachecóis e luvas.

Do alto do prédio, poucas luzes acessas, entre elas a do terceiro andar. Convidando me para entrar, e eu entrei, naquele rápido flash de uma passagem de ônibus.

Entrei, na própria imaginação do que eu poderei a vir ser um dia. Se é que o tempo e as estações permitirem.

Por segundos fomos uma…

A cada segundo somos um, já não penso como ontem. O ônibus segue seu destino.

Será que ela me viu? Como me mentalizou?

Imagens, somos feitos de imagens e imaginação.

Presos nas teias das nossas cabeças, livremente soltos nas veias do mundo, entregues a própria sorte, até que a morte nos separe.

 

 

 

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