Sem título.

Monalisa, pintura de Leonardo da Vinci, 1797, Museu do Louvre/Paris.

Lá fui eu
Para o psquiatra
Pensando que meu caso não tem jeito
Não tem jeito para quem nasce com o espectro de morte no peito
E nem para aqueles que nascem com o sangue nos olhos
Mas será?

Outro dia, ouvi falar em catarse e sublimação
Quanta palavra complexa
Sendo que mecanismo de defesa é praticamente seu resumão/

Nos defendemos para não sofrer e
Para poupar os outros
Me defendo tanto
que me escondo

Me escondo tanto

Que está difícil de me encontrar/

Refleti sobre a catarse
Coisa doida
É o prazer em ver os outros sofrerem
No bordão “antes ele do que eu”
E descobri que ela não é de todo mau,
É da mente humana/

A primeira vez que ouvi falar dela
foi para entender o porquê meu pai gosta tanto de estar na cena do crime
vendo mortos em acidentes ou
Assistindo programas policiais/

Já quanto a sublimação foi a poucos minutos atrás quando eu disse para minha mãe que entendo o porquê deles não virem pra cá me visitar. Afinal temos tanto tempo, né?

Sossega coração
O mundo não é de todo ruína
Olhe só os poetas, os médicos e os açougueiros
E até aqueles que amam um barbecue
Disse barbecue = churrasco
Não pensei em barbáries/

Olhe só para eles, olhe, olhe
O que seria deles sem a dissecação?
O que seria de nós sem as estapafúrdias?

Só para lembrar
estapafúrdia é sinônimo de ilógico, irracional, fora do comum, doideira…

Os normais tentam transparecer
Suas águas mansas
Enquanto isso
eu grito, grito e grito
Uma hora sai minha voz/

Até aqui no consultório
Todos estão com fones de ouvido/

Consegui ler os primeiros títulos em alemão na revista de culinária
Tive uma certa identificação com minhas tarefas diárias/

Enquanto isso não percebo que estou sendo cozinhada/

Hoje recebi a alta de um dos antidepressivos
Também sinto meu humor em alta
A psicóloga disse que agora sou uma versão melhorada
Também acho

Mas essa não parece eu, sou estrangeira aqui/

Já estava acostumada com aquela tamanha tristeza
Se a depressão não tivesse me derrubado da mesa
certamente não identificaria nada dessas observações/

Mas saber de tudo é um fardo
E estamos acostumados só com parcialidades/

Por enquanto vemos em partes, mas veremos face a face 🎼🎼🎼

Lembram dessa música acima? Antes dela virar som, foi poema/

O poeta não morreu foi ao inferno e voltou🎼🎼🎼

Vou parar de cantar, parece que estou realmente feliz hoje/

Depois da consuta

Fui almoçar sozinha
Para comemorar meus feitos
Disse um bem vinda para essa minha nova companhia
Ela simplesmente me sorrio/

Lembrei do quadro de Monalisa
E continuei a contemplar
A obra de arte que a vida faz conosco/

Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição 4.0 Internacional

15 comentários

  1. Me escondo tanto /Que está difícil de me encontrar/
    Uma doce ilusão! Esconder não poupa ninguém! Nem a nós mesmos!
    Mas até percebermos isso fazemos como os poetas “vamos ao inferno e voltamos”.
    E você, Cristileine, conhece bem os caminhos. Estar entre eles contenta a muitos, mas só quem vai ao “inferno”, reconhece quando está no “céu”.
    Beijos e felicidades da admiradora.

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  2. Eu não sofro de depressão. Minha mãe era bipolar, alternava momentos de depressão com momentos de euforia. Eu já tive ataques de pânico e sofro de ansiedade. Mas eu descobri que a minha ansiedade é controlável, se eu conseguir dar o valor correto ao que os outros pensam. Ou seja, eu não tenho que agradar ninguém, e ninguém tem de gostar de mim. Sabendo e aceitando isso fica muito mais fácil viver…

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    1. Uma boa dica Jauch, valeu.
      Eu conhecia muito pouco sobre a bipolaridade. O blog da Bia Ribeiro tem me instruído nesse assunto. Hoje estava escutando um vídeo da Dra. Dóris Moreno, aquela que postei dias atrás, sobre a importância do médico saber diferenciar a bipolaridade e a depressão para se ter um tratamento propício. Mas, o que mais me chamou atenção foi ela explicar como é complexo ser filho de quem tem o transtorno bipolar, ou melhor, que quando algo afeta saúde mental toda família padece. Isso me deu força para para continuar procurando uma estabilidade, se é que ela existe.

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  3. Perceber essas transformações e nos aceitar nos momentos de alegria e de euforia, esses são alguns exemplos de como podemos vencer essa doença. Comemore mesmo, aos poucos estará cada vez mais forte. Altos e baixos sem vêem, mas estando bem consigo fica mais fácil a superação.
    Fique bem ❤️

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  4. É sempre muito gratificante quando percebemos a mudança, a melhora na luta contra essa doença, e nos sentirmos bem com nós mesmos.
    Fico muito feliz por você, de verdade!
    Momentos bons e ruins todos temos, o que precisamos sempre aprender é como lidar e encarar esses momentos.
    Bjo grande :*

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