Assunta sabia que estava ficando cega, então começou a preparar todo o ambiente doméstico para essa nova condição de sua vida.
Sua maior preocupação era um velho e solitário parceiro que vivia num aquário. Prevenida como si só, Assunta pediu para encapsular a quantidade necessária de ração para o peixinho.
O esperado aconteceu, o mundo de Assunta ficou completamente escuro. O que não a impedia de seguir uma vida relativamente normal, tendo desenvolvido absurdamente o tato, o olfato, a audição e o sexto sentido.
Porém, como tudo na vida tem seus enganos, certo dia ao invés de pegar as cápsulas de ração, Assunta começou a pegar as de remédios. O peixe experimentou desde analgésico até anticoncepcional. Até hoje ninguém sabe se Assunta sabia o que estava fazendo e duvidam de como ela não distinguiu as formas das cápsulas.
O fato é que logo Assunta começou a sentir uns movimentos estranhos e aleatórios quando colocava ambas mãos no aquário para conversar com o peixe amigo. Então, ficou preocupada e temerosa porque já não percebia a troca de energia ativa entre eles.
Desesperada pegou sua bengala e se embalou para a rua na procura de ajuda. Não tinha certeza se ia até o veterinário que ficava no outro bairro, pois, nunca tinha parado para pensar se eram os veterinários que cuidavam de peixes. Então ela resolveu ser mais prática e ir numa loja de aquários que ficava há três quarteirões de sua casa.
Com a bengala de um lado do braço e o pequeno aquário debaixo do outro, Assunta correu, correu, e desencarnou junto com o peixe no cruzamento da farmácia com o mercado central.
Na água do aquário, que ninguém sabia dizer como ficou inteiro, podia se ver o reflexo brilhante da farmácia.
No enterro de Assunta haviam muitas velas tentando iluminar o que já tinha ido. Revelando as contradições: há luzes que não penetram na escuridão e há escuridão que traz luz.
Na lápide de Assunta foi escrito “Quando estamos exaltados não escutamos o barulho do trem”. Quem será que se lembrou de postar essa homenagem?
Assunta…fala…mas, não escuta…este exercício essencial para a vida…
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Adorei a interligação que você fez…
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Obrigado. Voce está no Brasil?
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Ainda estou.
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Viestes numa época difícil tanto para a sua família quanto para o país…
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Por demais, vi muita briga e intermináveis filas nos postos de combustíveis, e estamos literalmente contanto com a sorte para fazer o trajeto interior-capital para pegar o vôo de volta. Pior de tudo foi ver o desânimo do povo, e o governo se pronunciando como se tivesse nos fazendo um favor…
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Estes acontecimentos são apenas desdobramentos de decisões equivocadas que se acumulam nos porões da politicagem nacional…este foi um dos motivos que motivaram a começar a escrever e fazer o blog….eis um dos motivos para minha autoterapia….kkkkk. Pelo menos, abriu-me algumas janelas… bom retorno…volte ao Brasil em épocas mais pujantes e venha até Minas…
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Estevam, acho que comi todos os pães de queijo que eu havia perdido nesses anos, risos. Que delícia! Os sabores e a prestatividade do Brasil são incomparáveis.
Essa é uma fase dura, quando a ferida é mexida, mas há de passar. Quando lá fora alguém vem argumentar sobre nossa bagunça interna, sempre lembro que somos um país “relativamente jovem” com pouco mais de 500 anos, sem entrar na questão da colonização, e que ainda assim, temos uma das maiores democracias do mundo. Resta saber entender e usar esse poder que temos nas mãos… Sempre temos a tendência de nos comparar com os que estão acima, mas há muitos países por aí onde nem há direito de manifestação, não há voz, ou por opressão, ou por guerra, ou por fome. O bom mesmo é não se comparar nem com o mais e nem com o menos, mas sim procurar a nossa própria identidade enquanto país. Isso sim faz falta… Olhar para frente, e não ficar esperando um Lampião com Maria Bonita para nos salvar, e nem uma ditadura para delegarmos a nossas responsabilidades
… Segue o fluxo.
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Epa! Minas! Pão-de-queijo? Amo!
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Adoro!
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O quanto estamos preparados para lidar com nossa escuridão cuja luz não penetra, precisa brotar de lá de dentro?
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E brota… Mas é difícil manter acessa a fé para ver a terra romper.
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Os que defendem ditadura…provavelmente, não conhecem história ou são mal intencionados ou manipulados…boa parte age como em casamento: quem tá fora quer entrar e quem tá dentro quer sair…kkkkk
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Difícil essa época que tínhamos que andar olhando para o chão e só dizer sim senhor.
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Muito interessante o texto. Abraços cordiais!
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Obrigada Mara, sempre bom te ver por aqui.
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