Entre tesão e tensão.

Descreverei as roupas que mais gostei de usar para ver o que elas têm para me falar. Todas tinham algo em comum, tecido escolhido a dedo e olhos, cortado e cerzido por uma costureira.

O primeiro vestido que lembro era estampado nas cores verde, azul, preto e branco; cores que se interligavam formando um desenho como mini rosas. Não tinha mangas e o decote era quadrado. O vestido ia até um pouco abaixo dos joelhos com pregas, bem solto e fresco num tecido de chita, de textura áspera, mas nele me sentia uma jardineira num campo florido.

O segundo que me veio à memória também era vestido, tubinho, dessa vez vermelho intenso, de linho, formas geométricas que acompanhavam a forma do corpo (seio, cintura, quadril), curto, repleto de botões encapados nas costas. Esse me dava poderes.

Falando em botões, acho que realmente eu gostava deles, porque dessa vez me recordo de uma blusa, justa, manga comprida, seda, estampa miúda de flores, decote V, de onde começavam os botões e terminavam pouco abaixo da cintura cobrindo todo o tronco e metade do quadril. Era uma blusa tão macia e confortável, a dificuldade era achar o que combinar. Com que calça eu vou?

Nem preciso falar de toda a trabalheira para me armar e desarmar com todos os botões e suas casas, né?

Nada que reclamações e o maior gasto de tempo me dissuadia de me enfeitar conforme a moldagem do feito à mão.

Não sei se porque cresci ou envelheci, mas, depois das lojas de departamentos nada mais foi costurado como antes.

Somos humanos tecidos entre tesão e tensão. Ainda tento me encaixar nas roupas das prateleiras… Também, tentei aprender à costurar, mas fui um fiasco. Queria conhecer uma praia de nudismo. A terra conhece muitas delas, eu estou me apresentando para a Terra. A modelo e a passarela.