Perséfone e a depressão

Proserpina, Dante Gabriel Rosetti, 1874 (foto Wikipédia)

Os percursos das deusas da mitologia grega têm muito a nos dizer sobre a depressão. Sobretudo os de Deméter (arquétipo a mãe) e Perséfone (arquétipo a filha). Hoje vou discorrer sobre Perséfone.

Essa que é a deusa das flores, dos frutos, das ervas e dos perfumes, como também a rainha do submundo, aquela que teve que aprender a andar entre os vivos e os mortos.

Perséfone pode nos dar dicas de como lidar com a depressão, pois, ela passa parte do ano nas trevas e na outra produz a Primavera. Dizem que por esse mito nasceram as quatro estações do ano.

Somente essa passagem, já nos dá para se ter uma ideia de que é bom estarmos preparados para todo o tempo: receber, usufruir, preservar e reconstruir em cada período.

Esse mito vai mais a fundo, de filha amada por Deméter (deusa da agricultura), até donzela raptada, violentada e prisioneira por Hades (deus das trevas e dos mortos); Perséfone passou por transformações e adquiriu poderes para tratar com as profundezas e a beleza, saber lidar com os contrários e contrariedades.

Antes ela só conhecia a proteção e a pureza (ingenuidade), até ser obrigada a conviver e conhecer o subterrâneo, a morte, a escuridão. O que não é dito, o que é escondido, o que é abominável.

Por isso muitas vezes Perséfone é dita como deusa vítima, a que não sabe dizer não, lutar por seus propósitos, ter clareza de objetivos, se impôr.

Mas, procurando desvendar melhor o mito veremos que não é bem assim.

Em certo momento Perséfone tem a oportunidade de voltar a viver com a sua mãe no mundo da luz, mas, decidiu comer o fruto da romã o que lhe liga nas profundezas com o marido.

Lembram do caso da maçã? Pois é, Perséfone passou a ter conhecimento do bem e do mal.

Por isso, ela vive entre o mundo do consciente e o do inconsciente. Podemos dizer que ela é a deusa da transitoriedade, quem entende que tudo passa e se renova no ciclo da vida.

Entretanto, manejar o perfil Perséfone não é fácil, nossa cultura cultua e celebra somente a vida, a luz, a prosperidade, o que se vê; e não sabe o que fazer nas situações de morte, dor, escuridão, decadência, inconsciência, intuição.

Antes de Perséfone aceitar sua nova condição de vida, ela passou por momentos de negação, profunda tristeza e desespero.
Se isolou, não queria mais comer e nem ver nada o que tinha pela frente. Deprimiu. Teve que lidar com a morte diariamente, conheceu forçosamente a sexualidade e a separação.

Esgotada suas mágoas, Perséfone percebeu que não tinha mais para onde ir, precisava compreender tudo o que aquela situação tinha para lhe dizer; já que não tinha como sair daquele lugar, que a aversão dele saísse dela.

Assim virou a “rainha e guia dos mortos” que ali chegavam, passou amar e respeitar seu marido Hades, passou a governar com ele.

Quando em terra, Perséfone não deixava de dar a luz trazendo o brilho, as cores e os aromas da Primavera.

O que me diz o mito de Perséfone:

Ufa que mito! Claro que lembrei de “A Bela e a Fera”. Leio, releio, pesquiso e sempre aparece algo a ser descoberto. Aqui procurei fazer uma compilação do que aprendi relacionando com a depressão, na busca de pistas de como entrar e sair dessa caverna. Verificar o que podemos aprender com ela. Não ficar sendo vítimas, nem vilãs, nem culpadas da situação, mas nos contextualizar nela. O perfil Perséfone tem atração pela morte, mas é na vida que ela sabe florir. Entre as trevas e a luz, há romãs (escolhas).

Fontes:

  • É fácil achar esse mito na internet. Para saber das origens das estações sugiro esse link aqui
  • Livro: “As Deusas e a Mulher“, de Jean Shenoda Bolen.
  • Texto: Perfil Psicológico da Mulher Perséfone, de Fatima Vieira.

23 comentários

    1. 😂 ei Jr.
      Pelo que entendi, Hades não é propriamente o demônio na mitologia grega. Isso vem depois com os romanos e o cristianismo. De qualquer forma o objetivo foi de uma análise como você disse. Ainda que amadora de uma curiosa da mente humana.

      Boa semana.

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  1. De momento, estou imersa no mito de Psiquê e Eros, ainda 😀 Consegui arranjar, por aqui, uns pdfs de mitologia que não são maus, mas preciso de mais bibliografia 😉 Só por curiosidade, passei esta quadra natalícia a ler e a reler o principezinho. Não sei porquê, mas identifiquei-me com a forma como o aviador falava dos desenhos no logo no início 😂mas foi bom apaixonar-me pela história outra vez. Uma boa semana 🙂 Cristileine

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    1. Essas são obras de conhecimentos inesgotáveis, impressionante!
      No blog Anowamente há indicação de bibliotecas com pdfs desses assuntos.
      Se te bater vontade escreva sobre Psquê e Eros.
      Abraços e até mais 🙋🏽‍♀️

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  2. “Em certo momento Perséfone tem a oportunidade de voltar a viver com a sua mãe no mundo da luz, mas, decidi comer o fruto da romã…”. (Como diria o Google, “você quis dizer” “decidiu”, mas escreveu “decidi”. Meu terapeuta estaria contando as horas para conversarmos sobre esse ato falho.

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    1. 😂 essa foi boa. Vou arrumar já, foi erro de português mesmo, os quais devem ter muitos por aqui, gosto quando falam que aí tenho a oportunidade de arrumar. Quanto ao ato falho, não sei se tem conserto😂😂😂 vou perguntar para minha psicóloga. Abraços e boa semana🙋🏽‍♀️

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  3. Eu li As deusas e a mulher quando adolescente.. Sempre adorei mitologia! Da grega, sempre me identifiquei com Psiquê e Perséfone… Em Psicologia analítica temos que para nos conhecer precisamos encontrar nossa sombra e integrá-la ao nosso todo. Muitos símbolos representam o local da sombra (que aparecem nos sonhos, inclusive), como cavernas, as profundezas, o submundo, descer escadas, a floresta escura, as trevas. Precisamos descer até o fundo, o desconhecido, para amadurecer, e depois retornarmos mais completos. E só uma vez não é suficiente, esse processo se dá um ciclos. E Perséfone representa essa descoberta perfeitamente ❤

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