A Benta foi minha amiga de adolescência, estudamos juntas por um longo tempo. Ela sempre foi obstinada, o que às vezes eu via com bons olhos e noutras não.
Certo dia, Benta se apaixonou pelo namorado de outra amiga minha. Por muito tempo fiquei no fogo cruzado. Benta fazia de tudo para a conquista, até simpatias. Eu olhava aquilo tudo com admiração e estranheza.
Na verdade, não queria estar naquela situação porque eu gostava das duas e sabia que alguém sairia ferida, inclusive eu com elas.
Benta foi, foi, foi, até o namorado ser todo dela. Hoje são casados, têm filhos e vivem com todos os percalços que o felizes para sempre nos oferece.
Eu fui fazer faculdade, também casei e tive filhos, mudei de cidade, de Estado, de país.
Na Páscoa retrassada fui visitar minha família, Benta tocou a campainha e disse “vim te ver”. Quase cai das pernas, sempre achei que ela tinha ficado chateada comigo.
Essa Benta é mesmo surpreendente!
Claro que no meio desse caminho tive uma e outra notícia dela, sempre pela boca dos outros.
Sabia que o pai dela estava com uma depressão severa, daquela que te prende na cama, tira sua fisionomia e a vontade de viver. Sabia também que Benta estava em tratamento de câncer de mama…
Quando ela entrou e começamos tomar café nem sabia o que dizer. Ela que sempre teve o cabelo longo e liso, agora estava curto e encaracolado.
Com um bom humor jamais visto antes, Benta me deixou bem à vontade dentro da minha própria casa/pele.
Trocamos ideias sobre a depressão, a educação de filhos, os cuidados com os pais, etc. Ela me deu total abertura para perguntar sobre o tratamento do câncer, as quimios, a cirurgia, etc.
O que mais me doeu foi saber que durante todo esse período ela nunca pode contar para o pai dela sobre a doença temendo que ele não suportasse.
Eu olhava para aquela mulher, que já não era mais uma menina, era uma pessoa que assumiu as rédeas da vida. O sorriso, a pele, a postura, tudo era diferente.
Ela disse que felizmente tinha vencido essa luta, que teria que continuar fazendo exames regulares para acompanhamento, mas que estava curada do câncer .
Com filhos pequenos, pai acamado, cuidando da sogra que adoeceu e morreu no meio disso tudo, marido sem chão. Benta venceu!
Ela me contava sua história com orgulho. A única hora que os olhos dela encheram de lágrimas foi quando eu lhe perguntei:
Muito bem, você conseguiu, e você? Como vai cuidar de você de agora para frente?
Nem tudo precisa de resposta né gente, eu não queria a resposta e nem sei se fiz bem em fazer a pergunta.
Benta me deu um forte abraço e foi cuidar da vida.
Algum tempo passou e minha mãe me deu a notícia: Cris, a mãe da Benta está com câncer.
Sem comentários…
Hoje vi as fotos que a Benta publicou no Insta, com as seguintes frases:
04 de Fevereiro
Dia Mundial de Combate ao Câncer
O câncer tem cura
Curta essa luta
De um lado uma foto dela careca com os filhos, e do outro dela com a mãe. Vocês nem imaginam como ela está cabeluda e a mãe dela de cabeça lisinha. Título da postagem: Gratidão.
Que bom que hoje em dia podemos mostrar nossos medos e fortalezas. Que bom que a medicina evolui. Que bom que existe a luta e a cura. Que bom que Benta tocou mais que a campainha.
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Baseado em fatos reais.
Nome fictício.
Beijo Benta.
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Vivi situação parecida, superada e vencida. Essa é amiga, mesmo.
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Foi um dia de aprendizagem, vida e suas mensagens. Até Jrmessi🙋🏽♀️
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✋✋💪👍
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Uma tia minha (parte de pai) e minha mãe (que era bipolar e chegara a ser internada) faleceram de cancro. Meu avô (parte da mãe) e meu pai (mais dois irmãos dele) morreram por problemas cardíacos…
E eu vou vivendo… Com um medo escondido, eu acho. Mas vou vivendo. Porque não há mais nada que possamos fazer, a não ser viver, e viver bem.
Gosto dessa sua amiga 🙂
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Vou vivendo, vou, vivo e ando…
Não há mais nada que possamos fazer, a não ser viver, e viver BEM.
Gostei!
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