
Do fruto fez doce
Da cidade versos
O tempo em suas mãos
Tomou a dimensão do universo
Tardia?
Não.
Estava ajuntando as rimas
Da sabedoria
Que mais sabor e cor tomavam
Conforme o desbotar dos cabelos
O Rio Vermelho
Jamais saiu de sua memória
Nem o encanto do sorriso certeiro
Pouco escolada
Foi livre para escreVer
Liberta da moda literária
Seus versos foi seu poder
Falava de becos
Falava de flores
Falava de amores
E do vir a ser
Mulher do interior
Que desde 1889
Declamava
Sobre perder o medo
Pra viver.
Cora Coralina foi uma poetisa apaixonada por sua terra – Goiás – e por sua vida simples. Apesar de ser filha e esposa de homens influentes, foi nos versos e nas panelas que ela se descobriu e se realizou.
“A perda do medo”, foi assim que Cora Coralina denominou sua maturidade.
Publicou seu primeiro livro aos 76 anos, apesar de escrever desde os 14. Ganhou prêmios e reconhecimento em vida. Morreu aos 95 anos.
Curiosamente, Cora Coralina (cujo nome real era Anna) viveu longos anos da sua vida aonde eu nasci, em Jaboticabal interior do Estado de São Paulo. Lá ela teve seus seis filhos, dois morreram após o parto.
Hoje, o maior centro de eventos da cidade, onde há a Festa do Quitute, leva o nome da poetisa.
Uma capela foi erguida, em meio ao matagal
Jabuticabeiras floridas existiam no local
Era a fruta preferida pelos índios sem igual
E assim foi escolhida, com o nome de JaboticabalCora Coralina
Poemas de Cora Coralina
(Ou poderia chamar também de Receitas de Cora Coralina)
O Cântico da Terra
Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.
Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranquila ao teu esforço.
Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.
Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.
A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.
E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranqüilo dormirás.
Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.Cora Coralina
Das Pedras
Ajuntei todas as pedras
que vieram sobre mim.
Levantei uma escada muito alta
e no alto subi.
Teci um tapete floreado
e no sonho me perdi.
Uma estrada,
um leito,
uma casa,
um companheiro.
Tudo de pedra.
Entre pedras
cresceu a minha poesia.
Minha vida…
Quebrando pedras
e plantando flores.
Entre pedras que me esmagavam
Levantei a pedra rude
dos meus versos…
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Procure também pelos títulos:
- Semente e fruto
- Menina mal amada
- Minha cidade
- Variação
- Sombras
Adoro os poemas de Cora Coralina.
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Estamos juntas.
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Cora, linda, em vida e obra.
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Eterna Cora que nos dá horas mais amenas…
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Um prazer para conhecer!
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Bom saber…
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Adoro esta sua capacidade de ter saído do Brasil, mas levado consigo o que temos de melhor… Abraços.
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A distância me puxa às raízes…
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… e as asas da imaginação….
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