JogAndo

Foto Sebastião Salgado, Ceará, 1983

Brincar com ossos
Presente morto
Da seca e da escravidão

Em dias rotos
O sonho brinca
Onde vibra um coração

Nas mãos de crianças
Crescem lembranças
Poder de transformAção

A Terra
Que pode parecer severa
É um lar de evolução

Em cada jogo…

Tradução:

Cada osso tem um nome e uma função nos jogos que retratam a vida dos rebanhos da região. Os ossos menores em uma fileira vêm de ovelhas e representam as cabras que sempre se movem em bloco; os demais ossos são de cavalos, burros e bois, que também ganham forma e ganham vida no imaginário das crianças brincalhonas do sertão.


A foto é da exposição Terra, do fotógrafo Sebastião Salgado, que estava em Frankfurt até o último dia 09, na Haus Am Dom.

Essa é a terceira vez que tenho contato com as obras desse fotógrafo brasileiro que tanto admiro. A primeira foi na universidade nas aulas de fotojornalismo. A segunda em 2014 quando morava em Curitiba na belíssima exposição Genesis. Essa exposição aqui foi bem modesta, o que não deixou de ser impactante, com 45 fotos retratando de norte à sul do Brasil o Movimento dos Sem Terra.

Sebastião Salgado, provocador inato, toca com a lente as feridas, seu trabalho é voltado à critica social. Mostra as mazelas do mundo para sairmos da hipnose coletiva da alienação, um olhar para nos despertar da indiferença, um apelo à consciência…

Na exposição Terra lembrei da Baleia, a cachorra da família de Fabiano (livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos) quando vi as pessoas se alimentando de cactos. Havia muitas fotos do nordeste do Brasil, algumas no Paraná, as de São Paulo me foram mais familiares. A Visão Debaixo da Ponte me pareceu nítida.

Retroscedi ao interior de São Paulo onde cresci e vi os boias-frias (cortadores de cana, apanhadores de laranjas, algodão,etc.), inclusive muitos da minha família, saindo para o trabalho antes do amanhecer e voltando no escurecer.

Exodo rural, me explicava a professora no colegial. Explicava o que não tem explicação, na Terra não falta terra, nem alimentos e nem casas, falta amor e sentido de integridade

Li na legenda de uma foto que num presídio de Itaquera SP moram 160 pessoas em 50 metros quadrados (lembrei do livro e do filme Estação Carandiru, de Dráuzio Varella). Na foto de lixão, voltou-me o documentário Ilha das Flores e do Lixo Extraordinário.

Enfim foram fortes emoções, onde estive bem pertinho de minha cultura, limitações, memórias e desejos de evolução…

A dor não é feita para ser escondida, ela é feita para ser vencida com o creScER de cada ossos.

Folheto de apresentação da exposição Terra, de Sebastião Salgado, em Frankfurt am Main

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9 comentários

  1. Minha querida amiga… que privilégio estar diante das obras desta pessoa fantástica. Assisti um documentário dele e fiquei apaixonado pela genialidade de ser humano que este homem representa. A palavra mais perto para defini-lo seria “angelical”, eu diria. “Vidas Secas” eu li, assim como eu te leio e continuo lendo… adorei! Beijo no coração

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  2. Lembre-se que já escrevi textos sobre crianças com seus ossinhos para brincadeiras – inclusive os da minha infância. Quanto ao mineiro Sebastião Salgado (eita Minas Gerais que não toma juízo… Uai, Sô !), ele é da região calorenta e bonita de Aimorés (tribo indígena), mas se você perguntar a essa pessoa gentil a quem ele deve tudo, dirá, sem pestanejar: LÉLIA (a digna e lutadora esposa, chegados bem humildes a Paris, desconhecidos… o resto o Mundo sabe). Ah, eles têm uma fazenda, melhor, propriedade rural na região acima mencionada, que incentiva de vários modos as pessoas da mesma região e, por extensão – do mundo.

    Um abraço.
    Se Você “desaparecer” outra vez, o Povão irá buscá-la.

    Darlan

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  3. “… a daqui é presente da Mama…” Eis aqui uma comprovação cabal de que este garoto está certo quando diz e rediz que MÃE É MÃE… hehe. Vamos que vamos.

    Darlan

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