Do bar e dos bêbados

Quiromancia é o ato de ler as mãos que eu não sei, mas estou aprendendo a ler vidas…

O sonho do meu pai era abrir um bar, assim foi, acontece que ele e minha mãe trabalhavam em horário comercial, nesse ínterim eu quem era responsável por limpar, abrir, receber vendedores, e claro atender os fregueses. Eu estava em plena juventude e trabalhar por conta própria era bem mais animador do que para os outros.

O bar foi um período que descobri que a minha mãe faz os melhores salgadinhos do mundo; que eu era capaz de montar uma vitrine linda de doces esperando ver o fascínio das crianças; que os viajantes queriam mais do que vender guloseimas e bebidas, queriam também contar os seus causos das terras por onde passavam; que vender fiado é mais do que perder um amigo, é abrir portas para novos inimigos.

Para o meu pai, foi mais que a realização de um sonho, foi um exercício de autocontrole e exposição com seus maiores demônios, como já disse-lhes ele teve problemas com álcool, ficava violento quando bebia, etc e tal. Como dono de bar ele se viu do outro lado do balcão, contando as doses e vendo como o alcolismo é dose… Do meu lado posso dizer que foi uma experiência incrível, meu único incômodo era quando surgiram brigas, do mais sempre fui respeitada e querida.

Meu maior aprendizado foi com os bêbados, muitos chegavam depois da roça buscando descanso num copo; outros iam lá tomar a pinga logo de manhã atrás de forças; tinham ainda aqueles que passavam o longo do dia sentados na frente do bar vendo a vida passar contando com a solidariedade alcoólica (essa existe aos montes); os que falavam pelos cotovelos, coisas dessa Terra e de outras; os que cantavam à bessa, quantos poetas vi lá! Os que nem erguiam a cabeça para me olhar nos olhos; os que viravam melhores amigos de uma hora pra outra; os que não suportavam estar no mesmo lugar; os que a família tinham que ir buscar no fim da noite; os esquecidos de vez.

De tudo um pouco… do bar e dos bêbados fiquei com a certeza de que o mundo dos sonhos é vasto, o da realização já nasceu gasto, e que está na cerne do ser um imenso poder chamado basta.

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