Cortinas

Era entre as frestas da cortina que ela a tudo espiava.

Trrrim, trrrim, trrrim! tocou o despertador. Alguém acordou?

Mais um dia se anuncia, abrir os olhos já não era mais tão bela vista, ainda assim, Janaína sorriu para a Acácia amarela que floria do outro lado da janela. 

Lembrou da aula de biologia do colegial:

acácias – plantas resistentes à seca, algumas são cultivadas para efeito de fixação no solo nas regiões semiáridas.

Você já pensou em usar roupas menos exóticas? Você já pensou em rir mais baixo? Você já pensou…

Janaína pensou tanto que foi trespassada por tantas teorias. Fechou a janela, se cobriu, se fechou.

Deixou de bordar, deixou de dançar, deixou suas facilidades com as artes e a jardinagem.

Sem saber como se portar para ser aceita, cultivou artificialidades. Por amor se anulou, e foi anulada, no abrir e fechar dos ciclos. 

Poucos sabem ver por entre as brechas de um coração, Janaína.

Dizem que as cortinas são ao mesmo tempo decoração de interiores e proteção contra olhares intrusos. Será mesmo?

Cortina de Ferro, de fumaça, de vidro, de rolo, de trilho, de papel, de led, blecaute…

Quem passa na rua logo vê, há cortina nova no varão.

A cor e o tino de Janaína foram estampadas em outro canteiro, lá no jardim das audácias. 

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