Vida refugiada

Finalmente consegui pôr as mãos na biografia de Clarice Lispector. Estou radiante de alegria! Admiro essa escritora com seu jeito peculiar e enigmático de se expressar.

A leitura está só no começo, porém, logo me chamou atenção porque fiz uma analogia dos primeiros anos de sua vida e o atual histórico.

Clarice, cujo nome original era Haia, que em hebraico quer dizer “Vida“, nasceu na Ucrânia em 1920, quando o país atravessa por uma guerra civil. Sem falar que toda a Europa estava em crise por causa da Primeira Guerra Mundial.

Sua família, de origem judaica, fugiu daquela situação devastadora de miséria, destruição, perseguição e foram refugiados no nordeste do Brasil.

Agora, pouco mais de cem anos depois, a tensão militar entre Rússia e Estados Unidos se acirra por causa da dominação na Ucrânia. Tanto que nessa semana, o governo norte americano e o alemão sugeriram que seus cidadãos se retirem das terras ucranianas, sinalizando que estão preparando o terreno para a disputa…

Logo que mudei para a Alemanha começou a onda migratória de refugiados que deixavam seus países em busca de condições de vida digna aqui. Para acolhê-los, o sistema político, econômico e cultural germânico passaram por profundas transformações.

Será esse o sentido dos êxodos?

Ser estrangeira não é nada cômodo, as pessoas sonham com uma Eldorado que não existe, o que há são muitos sonhos minados, muito trabalho para adaptação e a saudade das origens. Muitos imigrantes escolhem essa vida por opção, mas não é o caso dos refugiados sem nenhuma perspectiva do que vai encontrar, dependendo da boa vontade alheia.

As grandes ondas migratórias ocorreram por causa de guerra e fome. As causas humanitárias viraram comércio de armas e poder, já viram o filme O Senhor das Armas? Além disso, temos a produção de comida suficiente no planeta, vide o desperdício diário, o que falta é a justa distribuição.

Fico imaginando as incontáveis “Haias” perdemos por causa da ganância. Clarice deixou sua marca nas estórias da literatura brasileira, uma vida que se conta. A história do mundo deixou suas marcas nela.

Tudo se repete, se repete, se repete, nas ondas do rádio, dos mares, dos lares, até o homem acordar… em outra terra.


Livro: Clarice – uma vida que se conta, por Nádia Battella Gotlib.

12 comentários

  1. Com este conflito às portas de uma guerra na Ucrânia, a vida deste escritor que tanto admiras torna-se válida. Pelo que você diz sobre ela, é uma vida interessante, especialmente para todos nós que somos imigrantes. De certa forma, nos vemos refletidos nessa história. Saudações.

    Curtido por 1 pessoa

  2. Que maravilha, Clarice para mim é uma escritora personagem, tão viva através de sua arte! Li no final do ano passado outra biografia dela: Clarice biografia – Benjamin Moser .
    Não conheço ainda está biografia. Tem muito material sobre Ela, não é? Já fiquei instigado a ler mais! Abraço

    Curtido por 1 pessoa

  3. Clarice é maior que sua biografia, ela é universal e atemporal. Sempre muito sensível, transparente e verdadeira, por isso se torna, também, tão universal e tão parecida com muitos, em épocas diversas. Grande história de vida, de escolhas, dissos e daquilos. Vai gostar de conhecer.

    Curtido por 1 pessoa

  4. Aparece uma restrição ao vídeo. Sabes dizer por quê?
    Quanto aos êxodos o ser humano é um êxodo, ou seja, uma metamorfose ambulante, por vários motivos, mas, quase, é á procura de algo que está fora, motivado por algo que está dentro, ou seria, pelo que não está dentro?

    Curtido por 1 pessoa

    1. Geralmente aparecem algumas restrições de vídeos daí para cá e vice-versa. Não sei o porquê.
      Quanto a segunda pergunta, o que está dentro e o que está fora são motivos que impulsionam, ou, expulsam.

      Curtir

  5. Eu era, e continuo garoto, física e mentalmente e, mais, moralmente – e estive com Clarice e o meu humilde pai, funcionário federal – do IBGE – , tinha que viajar naquela éoca de õnibus, a pé, isso tem mil anos, etc. Eu não trouxe nada de Clarice. Chico – Buarque – esteve com ela, na casa dela, Chico também, muito jovem, tiveram assim uma conversa de total respeito. Não sei se esta conversa está na WEB ou INTERNET, bom…

    Um abraço.

    Curtido por 1 pessoa

    1. Gosto muito da entrevista dela na TV Cultura em 1977 ano que eu nascia. Imagina agora se ela estivesse viva vendo o que está acontecendo com seus conterrâneos. Fugiu de lá por causa da guerra e a guerra continua. Eras e eras e era…

      Curtir

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s