Amora branca, amora branca
Assim me dizeram que era seu nome
Procurei te colher por todos os cantos
Amoras vermelhas encontrava
Enfim te achei na calçada da costureira
Debaixo de sua sombra
Eu dava ponto sem nó
Colhendo frutos
Assobiando o hino
“Para frente, para frente
Sou Taiúva a marchar
Conclamo a minha gente
A cantar, a cantar”
Era tão pequenina
Seu sabor marcou
A roupa das minhas entranhas
Amora branca, amora branca
Tão rara
Assim como o sossego
Que habita em teu solo
Assim como os paralelepípedos
Que lhe foram tirados
O rio Turvo que foi evaporado
A linha de trem que ficou escondida
Com a seiva de prosperidade
Amora branca, amora branca
Minha cara
Que tua paz não seja devastada
Como foi sua estação.
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Figura da linguagem = Apóstrofe
Evocação de algo, ou alguém, para causar ênfase, e exaltação da emotividade. Muito usada na poesia épica e lírica.
Aposto que você vai identificar essa apóstrofe: “Pai nosso que estais no céu”.
Contextualizando o poema:
Taiúva é a minha cidade natal, quer dizer, não nasci lá pela falta de hospital para partos, mas cresci e vivi até os meus 17 anos nessa terra.
O significado do nome Taiúva é amora branca, diziam que haviam muitas dessas árvores nativas na região. E eu procurava, como procurava…
O rio Turvo é um rio que nasce em Monte Alto (cidade vizinha), pertence a bacia hidrográfica do Rio Grande. Na infância banhei nele, hoje as criançada não tem essa mesma sorte, o rio praticamente sumiu em nosso trecho…
A estação ferroviária, chamada Cia Paulista, foi a responsável pelo surgimento de Taiúva. Nessa época a cidade era bem próspera com armazéns, cinema e até moeda própria. Hoje no local funciona um centro de esporte público.
A cidade estacionou o desenvolvimento após a desativação da estação de trem. O último grande empreendimento construído em Taiúva foi um presídio.
Fundada em 1902, Taiúva tem pouco mais de 5 mil habitantes. É uma cidade do interior de São Paulo onde há tranquilidade e companheirismo. Benefícios que estão sendo aos poucos danificados pela escassez de emprego e estudo que levam os jovens tomarem outros caminhos.
Eu lembro da estação e dos trilhos, na minha época no lugar era uma biblioteca. Talvez seja por isso que eu tenha essa fascinação por trem. O Brasil perdeu muito em desativar a malha ferroviária. Agora estamos somente nas mãos das rodovias e seus pedágios…
Com tantos rios, mar e terra que temos por aí, poderíamos ter meios de transportes mais variados (mas, porém, entretanto) 🎶nos deram espelhos e vimos um mundo doente🎶.
Hora de buscar nossa própria identidade, ainda que sejam raras as amoras brancas.
Linda poesia! E nunca tinha ouvida falar em amora branca, interessante. 🙂
Verdade, infelizmente usamos apenas um meio de transporte, o rodoviário…
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Tati era difícil para eu achá-las. São um pouco mais azedas. A sensação de comê-las é um tanto estranha porque somos acostumamos com a vermelha. Quanto ao transporte, sempre bom ter plano A, B e C vide à greve dos caminhoneiros.
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Muito interessante. :O
Sim, sempre bom ter planos alternativos
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Nunca vi, nem ouvi falar em amora branca. 🙂
Gostei!
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Ela é medicinal, dizem que o chá e bom para emagrecer. Ouvi falar também que são cultivadas para alimentar o bicho da seda. Mas fico pensando, se ela é rara na cidade que leva seu nome, imagine nas outras…
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Ah…é mesmo. Rsrsrs
Agora lembrei que o meu mais velho pegava folhas das amoreiras da escola para alimentar os bichos da seda. Eram árvores, enqto a vermelha só conheço em arbustos.
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São arbustos mesmo, eu quem escrevi errado. Árvores são maiores né.
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Em Portugal, a amora da árvore chamada Amoreira, cujas folhas se dão aos bichos-da-seda, é bem escura. E a amora das Silvas, arbustos que nascem em qualquer vereda e campo, também são bem vermelhas.
Ou seja, não sabia que havia amoras brancas!
Quanto à ferrovia…também em Portugal o investimento foi para autoestradas…e neste momento as linhas ferroviárias e carruagens estão em péssimo estado e prestando um mau serviço por falta de manutenção durante anos e anos.
Aqui, como aí, problemas semelhantes…
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Estou surpresa porque muitas pessoas não sabiam da existência da Amora Branca. Mesmo em nossa região ela não é comum.
Dos meios de transportes há muitos interesses por trás, é isso.
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Nunca tinha visto amora branca. Muito linda. Tão linda quanto o poema. Imagino que seja saborosa também… um abraço!!
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Minha memória gustativa é longínqua. Lembro dum azedo regado de conquista de encontrar a amora branca. Gostaria de prová-la de novo.
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(Mas, Porém, Contudo, Entretanto, Não Obstante!)
A Sua Explicação e Técnica de Escrita são maravilhosas!
Adorei a história da sua cidade. Taiuva se tornou mais bonita a novos olhares por sua causa.
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Eis que é uma mini cidade de uma amora desconhecida 🤣 obrigada por seu comentário. O Crime e castigo me instiga até hoje, imagine só o crime sem castigo, rsrsrs, boa noite.
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