Qual o maior bem de todos os homens?

Sócrates olha para si em um espelho, Bernard Vaillant, Jusepe Ribera, 1672

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Até que ponto somos comprometidos e temos interesse na humanidade?

Há séculos e séculos grandes homens se levantaram para nos exortar a não valorar só as coisas, mas sim as pessoas; a não cuidar só dos negócios da cidade, mas também da própria cidade; a buscar justiça e honestidade.

Hoje relembrarei o grego Sócrates, o qual muitos consideram “o pai da filosofia ocidental”. Figura representativa que teve sua memória preservada e nos foi apresentada pela escrita e contação de estórias de seus discípulos.

“A vida irrefletida não vale a pena ser vivida”

Sócrates 469-399 A.C.

A “Apologia de Sócrates”, um discurso escrito por Platão, apresenta o julgamento de Sócrates diante da acusação de perverter os jovens, promover descrença nos deuses e divulgar novas crenças.

Sócrates, homem hábil nas palavras e pensamentos, foi denunciado ao tribunal de justiça quado tinha mais 70 anos.

Por seu jeito desprendido de bens materiais, por buscar sabedoria, questionar, duvidar, criticar, Sócrates incomodava uns e atraia outros.

Por tudo isso, ele foi condenado à beber um cálice de cicuta (planta venenosa). O que ele fez sem muita resistência porque preferiu a morte do que se render aos padrões vigentes, que segundo ele se baseava na falsidade.

“Ninguém sabe, na verdade, se por acaso a morte não é o maior de todos os bens para o homem”, (capítulo XVI).

A vida e a morte de Sócrates foi filosofar e concluiu que nenhum de nós sabe o que é belo, o que é bom, o que é justo:

“só sei que nada sei”.

Sócrates rebateu a alcunha da predição do Oráculo de Delfos que dizia ser ele o homem mais sábio que existia. Isso porque ele amanva mais as interrogações do que as definições. Não estava muito preocupado com os títulos, gostava mesmo de aprender ensinando seus discípulos a examinar os homens, num exercício prático de ética e política nas praças públicas da cidade.

Seu jeito questionador e seu pensamento além do tempo foi visto pelos opositores como forma invasiva de sofismo, ou seja, em benefício próprio, com esperteza, fraudulência, baderna.

Tal postura irredutível contradizia interesses de políticos, poetas e artífices que queriam mostrar-se doutos, mas quando questionados na essência, não tinham consistência, mas sim arrogância e imprudência.

O último pedido de Sócrates foi:

“Quando os meus filhinhos ficarem adultos, atormentai-os como eu os vos atormentei, quando vos parecer que eles cuidam mais de riquezas e de honrarias do que da Verdade”

(cap. XX).

Na segunda parte do discurso, onde Sócrates é condenado, percebe-se sua surpresa com os números da politicagem, pois, por mais trinta votos ele teria sido absolvido da condenação.

“Assim, eu me vejo condenado à morte por vós, condenados de verdade, que sois criminosos de improbidade e de injustiça”,

(cap. XVII).

Do começo ao fim o debate, o julgamento e a sentença do filósofo foram exemplos de cidadania e responsabilidade social.

Isso nos diz que além das teorias e das leis, das calúnias e da morte; há pessoas que vivem em comprometimento com a humanidade.

Seus ensinamentos ecoam até hoje.

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11 comentários

  1. Não é de hoje, nem de ontem, que ideias que fujam aos paradigmas dominantes, provocam ‘fake news’… farsas para ludibriar a turba e condenar quem insiste em seus princípios: Sócrates; Jesus; Oscar Romero; Marielle Franco,etc… até que…

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  2. O que diria Sócrates desse nosso mundo “pós-verdade”, onde todos estão certos e errados ao mesmo tempo? Talvez seu lema da vida fosse “não sei se eu sei”.
    Texto muito bom.
    P.S. A continuação do julgamento de Sócrates está em Fédon, que é a passagem do último dia de Sócrates da prisão.
    Abraço.

    Curtido por 1 pessoa

        1. Divida que nada, para mim é uma honra te ver por aqui porque sei que você passeia por essas bandas desde o tempo do “homem primata, capitalismo selvagem ôôô” (leia-se de quando comecei o blog) 🤣🙋🏽‍♀️

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