Além mar.

Como eu gostaria de enxergar
Um pouquinho além mar
Mas nasci terráquea
Com os pés no chão e a cabeça na lua
Quando tento voar logo caio
Quando tento mergulhar fundo
Acaba o ar/

Meus pés que aqui caminham
Estão firmes
Só não seguro meu humor
Que nada com os cardumes
E voam com as borboletas
Elas são delicadas e
Estão quase extintas/
Uma baleia me contou
Que somos muito pequenos
Isso eu já sabia
O que eu não imaginava
É que ela também está a nos observar/

Para saltar de um mundo ao outro
Há a barreira do desconhecido Estrangeira estou e
Pela primeira vez em 15 anos
Moro na mesma casa há 3 anos/

Só conheço os vizinhos de vista
A família que mora parede e meia
São os donos dessa casa
Eles são iranianos
Nossa TV é programada para receber transmissões árabes
Mas só esses dias descobri que os árabes iranianos representam só 2% do povo do Irã

Quanto para aprender/

O outro casal de vizinhos são alemães
Depois de um ano e meio morando aqui precisei lhes entregar uma correspondência
Numa mistura de inglês e alemão tentei me explicar
A pergunta foi: Quem é você? Onde você mora?
Minha casa parece um aquário de tanto vidros e essa vizinha vive fumando no quintal olhando os peixinhos daqui/

Como eu gostaria de enxergar um pouquinho além mar
Uma das vistas mais bonitas que tive na vida
Foi num passeio de moto na orla da Barra do Chuí
Em cima da areia, à beira mar, embaixo do céu azul ensolarado
Uma revoada de gaivotas passou por nossas cabeças
Ali perdi noção do tempo e do espaço
Éramos todos um/

Depois vimos uma enorme carcaça de baleia
Então fiquei sem voz, sem palavras, sem explicação
Volta e meia vejo essa carcaça no espelho
Mesmo caindo naquela areia quente
Na orla que recusava veículos automotores
Tínhamos que levantar e continuar a caminhada ainda que fosse andando
Não é fácil conseguir um beijo nessa pedra…