A febre

A alma também tem febre, arrepia nos cala_frios, fica com os olhos inchados. Vocês já viram as olheiras da alma? E as orelhas do coração?

Dias que a minha calma se derrama em gotas fleumáticas, vindas dos hemisférios inflamados do cérebro pressionado e do tórax recheado de saudades. Escorrem nos ombros pesados de cargos que ninguém viu, mesmos ombros que serviram para acolher fardos que não eram só meus.

Choro por toda mulher que teve questionado o seu valor de mãe; por toda mãe que perderam seus filhos para a morte ou para a vida; por todos os filhos que foram afastados dos seus pais, querendo isso ou não. Choro pelos laços apertados, pelos cortados e por aqueles que nem foram dados.

Palmas aos responsáveis que respondem por seus atos, conhecem a gratidão; palmadas aos que ao invés de lavar os pratos de casa, lavam às mãos.

Nenhuma alma chega nesse mundo sozinha, nem toda escolha é única e exclusiva minha. Represento muitas gerações. Nem todo parto é voluntário, às vezes a cesária é marcada antes, bem antes. Como dizer que não sabia? Por que da surpresa do nascimento? E da morte?

O corte do cordão está agendado no calendário transcendental que não sabemos ler. Como é duro ser analfabeto, então, foque no pré natal, porque há exames diários.

A escola da vida é a mesma para todos que ousaram matricular a alma num corpo cheio de desejos, sonhos, vontade de superação e interação. Onde existe agonia e amor a se complementar na totalidade.

Vou curtir meus calafrios no verão de 40° graus da Europa porque sei que o outono está chegando, todas folhas amarelas hão de cair no inverno para um novo nascimento. A febre é um sinal que o corpo está reagindo. Por que falam para eu tomar analgésicos?

A poesia é meu sustento, o bálsamo que me embala, o que me mede, o que me ensina. Cada um tem sua medicina, onde faz seus investimentos, é disso que se reveste. Cada um tem a sua sina.

Todo dia morre uma ilusão, uma alegria, uma pessoa, uma história, uma decepção, e assim vai. Todo dia os versos continuam aqui para recriarmos na combinação de cores, flores, letras, sons, aromas, toques, olhares e paladares dos afins. Que a beleza e a intuição sejam a oração dos leitores do Universo.

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