Grifos I

Dizem que você conhece uma pessoa pelos grifos em seus livros. Será mesmo?

De Siddhartha gostei tanto que além de grifar, digitalizei e resolvi compartilhar. Essa é a primeira parte, até o meio do livro, a segunda virá depois para não ficar muito extenso. Ainda vão perceber que fiz grifos nos grifos, risos, e alguns pequenos comentários para contextualizar.

Siddhartha é uma obra introspectiva, profunda e emocionante, do jeito que eu gosto de ser. Talvez por isso tanta identificação.

O escritor alemão Hermann Hesse ganhou o prêmio Nobel de literatura em 1946 com esse poema indiano de 142 páginas.


SIDDHARTHA – um poema indiano – Hermann Hesse

/ Assim Siddhartha era amado por todos, a todos alegrava, a todos tornavam felizes, mas ele não era feliz… começará alimentar em si infelicidades… o amor de seu pai, de sua mãe, de seu amigo não o poderiam tornar feliz para todo o sempre, não poderia satisfazê-lo, saciá-lo, apaziguá-lo.

/ Onde bate o seu coração, senão no próprio Eu? mas onde encontra-se esse Eu, essa Interioridade, essa Finalidade? Não é de carne e osso, não é pensamento ou consciência… nem o pai, nem os professores e sábios, nem os cânticos sagrados… valeria a pena saber tudo isso se não conhecia o Uno?

‘A tua alma é o mundo inteiro’

/ os homens nos sonhos mais profundo, penetravam na sua interioridade e viviam… Não apenas possuir conhecimento, mas vivê-lo

/ É necessário encontrar a Fonte Primordial no fundo do Eu, possuí-la em nós mesmos. Tudo mais era demanda, desvio, erro.

/ Não desperdicemos nossas palavras

/ Então o pai compreendeu que Siddhartha já não estava mais entre eles

/ e tudo isso tudo cheira mal, tudo cheirava a mentira, tudo fingia sentido e sorte e beleza, tudo era uma oculta podridão

/ Siddhartha tinha um único objetivo: ficar vazio, vazio de sede, vazio de desejo, vazio de sonho, vazio de alegria e de tristeza… praticou a anulação de si mesmo

/ matava seus sentidos, matava as suas recordações, afastava-se do seu… percorreu o caminho da autonegação através da dor, do sofrimento voluntário e da derrota da dor, da fome, da sede, do cansaço… através da meditação, através de esvaziar o espírito de todas as ideias

/ O que significa a meditação? O que significa deixar o corpo? O que significa jejuar? O que significa suspender a respiração? É o escapar ao Eu, é uma breve fuga ao sofrimento do ser, é um breve alheamento da dor e da falta de sentido da vida … encontra a fuga e o sossego mas regressa da sua ilusão e encontra tudo na mesma, não ficou mais sábio, não aumentou o seu entendimento, não subiu um degrau

/ Descobrimos consolações, descobrimos formas de nos alhearmos, aprendemos habilidades com as quais nos enganamos

/ Acredito realmente que não existe aquela coisa a que chamamos “aprender”. Existe apenas uma sabedoria que está em toda parte, que é Atman, está em mim, está em ti e em todos os seres. E começo acreditar que essa sabedoria não tem pior inimigo que o desejo de sabedoria, o desejo de aprender.

/ Nada procurava, nada imitava… reconheceram-no pela perfeição de sua serenidade, na qual não havia ânsias, desejos, imitação, esforços, apenas luz e paz… ensinava com exemplos

/ Govinda, meu amigo, acabas de dar um passo, acabas de escolher o caminho. Foste sempre meu amigo, andava sempre um passo atrás de mim. Muitas vezes pensei: Govinda nunca dará um passo sozinho? Um passo para o impulso de sua alma? (Govinda era o melhor amigo e fiel escudeiro de Siddhartha)

/ Renunciastes ao teu lar e aos teus pais, renunciastes a tua origem e os teus bens, renuciastes a tua própria vontade, renuciastes a amizade (essa me pegou)

/ A unidade do mundo, a continuidade de todos os acontecimentos, a coexistência de todas as coisas grandes e pequenas na mesma torrente, na mesma lei das causas, da mudança e da morte, isso tudo fica claro a tua sublime doutrina, ó Ser Perfeito… mas há uma pequena falha… a tua doutrina da derrota do mundo, da libertação do sofrimento (fala de Siddhartha contrapondo Gotama, o Buda)

/ ninguém conseguirá a libertação através de doutrinas

/ Quem me dera poder olhar e sorrir assim, sentar-me e caminhar assim, tão livre, tão venerável, tão secreto, tão aberto, tão ingênuo e cheio de segredos. Na verdade, só o homem que penetrou nas profundezas de si mesmo consegue olhar e caminhar assim (Siddhartha falando para o Buda)

/ Quero aprender comigo mesmo, quero ser meu aluno, quero conhecer-me, conhecer esse segredo chamado Siddhartha

/ já não era a  magia de Maia, já não era o véu de Maia, já não era a multiplicidade absurda e acidental do mundo de aparências…

/ Mas ele, Siddhartha que vida pertencia? Que vida poderia partilhar? Que língua poderia falar?

/ considerando a essência das coisas muito longe do mundo visível… procurava um lar neste mundo, não apontava para alvos distantes.

/ tudo isso existirá sempre, mas ele não vira, ele não estivera presente

/ todos são servis, gostariam de obedecer, de pensar pouco. Os homens são crianças

/ E se lhe roubasse a sua sabedoria, a sua religiosidade, o seu pensamento? Não, porque essas coisas só a ele lhe pertencem e ele só as partilha quando quer e com quem quer

/ podemos mendigar amor, comprá-lo, recebê-lo de oferta, encontrá-lo na rua, mas nunca roubá-lo

/ O que sabes fazer? Sei pensar, sei esperar, sei jejuar e mais nada. Nada mais? Nada. Não, também sei fazer poemas. 

/ Quando te procurei no teu bosque, dei o primeiro passo … à partir do momento que formulei a intenção, sabia também que iria concretizar…

/ o seu objetivo arrastá-o…todos poderiam dominar esses encantamentos, todos podem alcançar a sua alma, de que saibam pensar, esperar e jejuar.

/ Parece de fato ser assim, todos tiram, todos dão, assim é a vida… Cada um dá o que tem, o guerreiro dá a sua força, o mercador dá os seus artigos, o mestre a sua sabedoria, o camponês o arroz, o pescador os peixes.

/ Escrever é bom, pensar é melhor. Inteligência é bom, paciência é melhor. 

/ Ele que no amor ainda era uma criança… aprendeu que não se pode receber prazer sem dar prazer e que cada gesto, cada carícia, cada contato, cada olhar, todos ínfimos recantos do corpo tem o seu segredo, que podem dar felicidade àquele que o sabe despertar. (Uau!)

/ possui o segredo das pessoas de sucesso… nunca tem medo do fracasso e nunca receia os prejuízos.

/ não me prejudiquei e nem prejudiquei as pessoas por causa da ira e da pressa

/ Também eram vãs as tentativas de convencer Siddhartha que ele comia o pão de Kamaswami. Siddhartha comia o seu próprio pão, ou antes, ambos comiam o pão de outrem, o pão de todos

/ não estava com seu coração, a fonte do seu ser. A fonte corria noutro lugar, tão longe dele, corria invisível, não tinha já nada haver com a sua vida

/ e no fundo de ti há uma serenidade e um refúgio a que tu recorres sempre e onde podes ser tu mesma (Aonde você pôde ser você mesma? Boa pergunta)

/ A maior parte das pessoas são como uma folha que cai, que flutua ao vento, que hesita e cai no chão. Mas, há outros poucos que são como estrelas, que seguem um rumo firme, nenhum vento os afeta, têm dentro de si as suas leis e o seu rumo.

/ continuas a não me amar, continuas a não amar ninguém. Não é assim? 

Seguem mais grifos numa próxima postagem 🙋🏽‍♀️

3 comentários

    1. Que ótima dica essa do filme, vou procurar, obrigada. Essa obra me chegou só agora, mas foi em excelente momento… Às vezes pensamos que as coisas são de um jeito e são de outro. Às vezes complicamos muito e o que a vida nos pede é leveza. Abraços, bom final de semana e se cuide🙋🏽‍♀️

      Curtido por 1 pessoa

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