Capricho

Capricho é bordar o destino
Deixar os dias mais belos e mais vivos

É tirar o sorriso do menino
Com um rosto feliz desenhado
No prato de refeição
E depois lavar a louça
Mesmo que ache que isso é um ato de repetição

É costurar os buracos das roupas e das brechas
Crochetar um caminho de mesa
Onde talvez você nunca vá se sentar
Concretizar os sonhos
Que foram elaborados cotidianaMente

É sair apenas para tomar um ar
E lá descobrir que foi tomada pela natureza
Num drink de satisfação
Num ato de autoamor da pura conexão

É deixar um recadinho na geladeira
Dizendo volto já
Seu jantar está no fogão
Enquanto na sala queima uma vela
Com cheiro de cravo e canela

É molhar as plantas
Enfeitar o entorno
Contornar os defeitos
Acolher o torto e o direito
Que vive entre a terra e o céu

O nascimento é um capricho
A morte também
Só assim sabemos da finitude
E do infinito

Há tantas maneiras de fazer
Um dia caprichado
Qual é a sua?

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4 comentários

  1. Quando o impecável compositor CARTOLA [Angenor de Oliveira], um quase analfabeto, faleceu, e só escreveu canções irrepreensíveis também no que toca a semântica ou ao idioma como um todo, tendo gravado seu primeiro LP aos 70 anos, por puro acaso e ajuda cabal e visionária do jornalista Stanislau Ponte Preta (RJ), o doutor em Farmácia, e também escritor – um tal de Carlos Drummond de Andrade – escreveu algo assim no Jornal do Brasil: “Este é um verso que eu gostaria de ter escrito.” Ei-lo: “Queixo-me às rosas, mas que bobagem, as rosas não falam, simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti.”
    *
    Pois é, Cristileine, digo isso após encontrar essa “rosa ou diamante”, aí acima, e digo o mesmo que o Drummond – por ser verso que eu gostaria de ter escrito, mas escreverei, teimoso: “Onde talvez você nunca vá se sentar.”
    Ó Glória Lucidez, onde estás, que não serves de guia a este cego ?
    *
    Um abraço. Bom domingo, 05 de junho.
    Darlan M Cunha

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